As pessoas e suas concepções de espaço
Começo me colocando no
lugar de muitos “perdidos”, como os que conheço. Compreendo
perfeitamente a incapacidade “temporária” de se localizar no
tempo e espaço, o
que faz parte de nossas vidas inevitavelmente.
Já em casa deveria ser
apresentado a criança as noções básicas de tempo e espaço; onde
é seu quarto, onde é a cozinha, onde você mora, em qual rua e a
qual bairro essa rua pertence; são detalhes pequenos mas que ensina
a criança a se localizar no espaço; dizer-lhe quando é seu
aniversário e quantos anos tem,quanto tempo demora para o próximo
ano, a localiza no tempo. Na escola, deveria ser dada continuidade
nestas atividades de relação para que estas crescessem com este
conhecimento inserido no seu contexto cotidiano, mas infelizmente,
nossa atual realidade nos impossibilita pois nem mesmo os pais se
localizam corretamente.
Ouço diariamente relatos de
pais dizendo vou à cidade TAL....quando querem dizer que vão ao
centro da mesma cidade que estão, mas por estarem na periferia da
cidade não reconhecem que estão na mesma, e quando questionados
dizem o nome do bairro e sorriem. Falar em bairro é outro tema que
os desconcerta, pois, o que é bairro? Para estes o bairro é uma
mini cidade muito próxima da que irão.
E assim ocorre com outros
vários temas relacionados: como a cidade é dividida? Como é
selecionado quais pessoas ficarão em qual posto de saúde ou em qual
escola? O que é zoneamento? Por que tem mais comercio aqui do que
ali, ou mais ônibus?
Quando na escola
questionamos quais os comércios existentes na sua cidade, a criança
se perde pois não sabe que espaço contempla a “cidade”.
O ensino cartográfico é visto por
muitas professoras como desnecessário, inoportuno, difícil,
complicado. Muitas não tem conhecimento necessário para trabalhar
tais questões e sentem-se inseguras para tal. O ensino de geografia
e história, ao meu ver, sempre foi posto de forma muito chata,
desagradável, e hoje estas professoras são de uma geração que
possui pouco ou quase nada desses conhecimentos e acrescento a falta
de vontade em adquiri-los.
E o que parece estar aqui
para nos ajudar muitas vezes se torna o vilão, nos fazendo crer que
aprender a se localizar e a cartografia não é mais necessário;
pois agora temos as ferramentas de uso comum: maps, google earth,
waze, tem GPS que as pessoas possuem nos carros e celulares. Estas
ferramentas fizeram com que nos acostumássemos a sempre recorrer a
elas e não ser necessário pensar, pessoas que pouco trabalharam
este quesito no ensino fundamental, hoje se perdem por pouco; meu
caso, posso ir ao mesmo endereço três ou quatro vezes e não sei
voltar.
A tecnologia veio para
nos auxiliar em muitas coisas, facilita nos localizarmos, saber
distancias e reconhecer os espaços mas se não for bem empregada
pelos professores acaba por facilitar demais e nos torna ignorantes
geográficos. Informações que antes eram banais agora são
consideradas super difíceis. O trabalho em sala de aula de
reconhecer seu espaço de moradia, seu percurso escolar e arredores
de casa faz muita diferença em sua aprendizagem, estimula
compreensões que exercerão influencia em diversas áreas de sua
vida, exemplo: tirar a carteira de motorista, temos que saber
direita, esquerda, norte, sul, leste, oeste, distancias, etc...
Para a criança é fácil
brincar de maquete, fazer cidadezinhas, então porque não brincar
aprendendo?
As crianças adoram brincar
na internet, por que não “jogar” com elas, mostrando localização
dos amigos, companheiros, inimigos? Fazendo assim compreenderem que
noções de espaço são necessárias em vários momentos e podem
aprender brincando.
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